III
FORO SOCIAL MUNDIAL DE LAS MIGRACIONES
Comunidades em Resistência na Colômbia
Maria
Luisa Mendonça,
de Rivas, Espanha
O Fórum
Mundial das Migrações denunciou o governo de Álvaro Uribe
por implementar a chamada “para-política”, que fortalece
grupos paramilitares e fere o direito internacional. As
organizações presentes denunciaram também o apoio de países
europeus, que se beneficiam economicamente com a exportação
de armas para a Colômbia.
Segundo
o representante da Anistina Internacional, Jesus Abderraman,
“O resultado dessa política é a repressão aos movimentos
camponeses, indígenas, sindicais e de outros setores. Uribe
acusa lideranças sociais de envolvimento com as guerrilhas
para justificar os assassinatos”. Em 2008, foram registrados
42 assassinatos de sindicalistas na Colômbia.
Outra
conseqüência dramática da guerra na Colômbia é a incidência
crescente de despejos forçados, que obrigam a população do
campo a migrar dentro de seu próprio país. De acordo com a
pesquisadora Zully La Verde, houve um aumento drástico de
despejos nos últimos anos. Em 2007, 305.966 pessoas foram
despejadas, o que representa um aumento de 38% em relação a
2006. Em 2008, 270.190 pessoas sofreram despejos, número que
equivalente a um aumento de 41% em comparação com o mesmo
período em 2007. Dados oficiais indicam que, entre 1997 e
2007, cerca de 2 milhões e 200 mil pessoas foram despejadas.
Porém, organizações de direitos humanos estimam que este número
seja bem maior, pois os dados do governo são incompletos e
muitas comunidades têm medo de fazer denúncias a autoridades
locais.
As
causas mais freqüentes dos despejos são ameaças de morte,
violência e recrutamento forçado de jovens (principalmente
entre 8 e 12 anos de idade) por grupos paramilitares,
guerrilheiros ou pelo exército colombiano. Outra razão é a
fumigação de cultivos de alimentos com glifosato, que também
afeta a criação de animais e tira das comunidades camponesas
seus meios de subsistência. Esta prática tem sido comum,
inclusive na região de fronteira com o Equador. A militarização
gera um risco adicional de violência sexual contra mulheres e
crianças. Um destes casos foi registrado pelo jornalista José
Abad, que fotografou o braço de uma jovem camponesa tatuado
com as iniciais AUC, em referência à violação sofrida por
paramilitares das Autodefesas da Colômbia.
“Comunidades
camponesas vivem sob risco constate e têm medo de denunciar
estes casos, por desconfiar das autoridades locais. A
impunidade se constitui em causa adicional da violência. Há
também comunidades confinadas em meio a conflitos armados ou
cercadas por minas terrestres”, explica Zully La Verde. Ela
lembra que há um número crescente de refugiados
transfronteiriços, principalmente no Equador, Venezuela e
Panamá. Porém, somente uma minoria dessa população recebe
refúgio oficial nestes países. Estima-se que os refugiados
colombianos em outros países cheguem a 500 mil.
Um
dos seminários do Fórum Mundial das Migrações destacou a
resistência das Comunidades de Paz, que optaram por uma
estratégia não-violenta de retomada de suas terras. Estas
comunidades se organizam de forma autônoma, para manter a
cultura camponesa e criar espaços de refúgio para vítimas
de repressão.
Wilson
David, representante da Comunidade de Paz de São José do
Apartado, conta como foi este processo de luta. “Em 1996,
nossa comunidade sofreu o primeiro despejo violento por
paramilitares, com participação do exército colombiano.
Conseguimos reocupar outra área, mas este processo custou a
vida de 180 companheiros. Vivemos em constante perigo. Em 2003
houve outro massacre e em 2005 assassinaram um de nossos líderes,
Luiz Eduardo Guierra, com toda a sua família, inclusive crianças
e um bebê de poucos meses de vida”, denuncia David.
Ao
contrário do que afirma o governo colombiano, os grupos
paramilitares não foram desativados. Segundo David, “Há um
reagrupamento dessas organizações, que se autodenominam
‘Nova Geração’ e seguem fortes em todo o país, atacando
comunidades camponesas e indígenas, com o apoio do exército.
A nova lei de terras de Uribe legaliza os despejos forçados e
transfere as terras dos camponeses para grupos
paramilitares”. Estes grupos também são apoiados por
empresas agrícolas estrangeiras. David lembra que, em 2003,
houve uma denúncia contra a Chiquita Banana, que praticava tráfico
de armas em benefício de paramilitares colombianos.
A
resistência das Comunidades de Paz só é possível através
de um alto nível de organização, como explica Berta
Tuberquia, uma de suas lideranças. “Nos organizamos de
forma autônoma. Inclusive temos nossas próprias escolas para
que as crianças sejam educadas de acordo com a cultura
camponesa. As escolas tradicionais não servem para nós, pois
estimulam a saída dos jovens do campo. Não aceitamos postos
policiais em nossa área e fazemos a nossa própria segurança.
Temos um centro de saúde, pois o serviço que o governo
oferece é péssimo. Estimulamos a agricultura orgânica e
fazemos um trabalho de formação constante na comunidade. Não
queremos ser refugiados, por isso lutamos na nossa terra”,
afirma Berta.
O
processo de resistência dessas comunidades tem sido
documentado pelo fotógrafo José Abad, que dedica seu
trabalho para que estes crimes não sejam esquecidos. “È
uma honra ter a oportunidade de registrar estes processos,
apesar da grande dor que sinto ao presenciar famílias
inteiras sendo despejadas, assassinadas. Essas comunidades são
atacadas por paramilitares, pelo exército e também pelas
guerrilhas. Dos 180 assassinatos em São José Apartado, 20
foram cometidos pelas FARC. Porém, sabemos que o centro do
problema não são as FARC e sim as elites que têm governado
nosso país. Os latifundiários e paramilitares, ligados ao
governo, já se apossaram de 4 milhões de hectares de terras
camponeses, através de despejos forçados”, denuncia Abad.
A
violência na Colômbia tem sido estimulada pelas políticas
de Álvaro Uribe e ocultada pela mídia internacional. Por
isso, a imagem de resistência apresentada no Fórum das Migrações
priorizou a luta cotidiana das comunidades camponesas,
em gestos aparentemente simples, como semear a terra, educar
crianças e lutar por autonomia. A mensagem central dos
movimentos colombianos presentes em Rivas foi, “Não
queremos viver exilados. È como arrancar uma árvore com sua
raiz”.
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