Uma questão muito
preocupante é praticamente a opção que muitos jovens são
obrigados a fazer entre estudar ou trabalhar. Essa fase dos 16
aos 24 anos é a etapa na qual, normalmente, se conclui a
formação escolar e ao mesmo tempo se ingressa no mercado de
trabalho. Aqui, mais uma vez, notamos que os problemas sempre
se agravam nas camadas mais empobrecidas da população. De um
modo geral, em todas as regiões metropolitanas analisadas os
jovens pobres que conseguiram conciliar estudo e trabalho são
muito menores que os jovens advindos de famílias mais
abastadas. A grande diferença se expressa em números: na
região metropolitana de São Paulo, 13,4% dos jovens
provenientes de famílias de baixa renda, enquanto nos jovens
ricos esse índice atinge apenas 8,7%.
O Trabalho no Brasil em
2005: Desafios e perspectivas
Paulo
César Pedrini*
Neste
ano de 2005 constatamos que a promessa eleitoreira do
presidente da República de criar 10 milhões de empregos em
seu mandato não passou de palavra morta.
A lógica
da política econômica empregada por esse governo, que tem
como meta principal o superávit primário (que bate recordes
constantemente), mostra que a prioridade não é a geração
de postos de trabalho, muito menos a solução dos
imensos problemas sociais brasileiros.
A
questão do trabalho em nosso país está muito longe de ser
resolvida; o desemprego, as reformas da previdência (já
realizada), sindical e trabalhista (que estão por vir) ameaçam
direitos conquistados pela classe trabalhadora ao longo da
história.
Um
grande problema que vem aumentando cada vez mais em nosso país,
é o que se chama de terceirização. Embora muito se fale
dela, achamos necessário entendê-la um pouco mais o que é,
o que representa e seus perversos efeitos sobre os
trabalhadores no Brasil.
Terceirização
é uma estratégia de gestão caracterizada pelo repasse de um
serviço ou produção de um determinado bem para outras
empresas, entidades ou instituições externas por meio de
assinatura de contrato entre as partes. As principais formas
de terceirização são: desverticalização, prestação de
serviços, franquia, compra de serviços, nomeação de
representantes, concessão, alocação de força de
trabalho/subcontratação e permissão. A terceirização não
é um fenômeno isolado, mas sim uma estratégia de gestão em
resposta a mudanças que estão vinculadas a contextos - político,
econômico, social, tecnológico e organizacional.
No
que se refere especificamente aos efeitos sobre os
trabalhadores, a terceirização se insere como fator de
flexibilização, ao eliminar para a firma contratante o
problema dos custos econômicos diretos com o trabalho, dentre
os quais demissão, admissão, treinamento e benefícios
sociais. No campo das condições de trabalho, a terceirização teve
seus efeitos: subemprego contratações sem carteira, contratações
com carteira e perdas de benefícios, perda de rendimentos,
piores condições gerais de trabalho, trabalho sobre maior
pressão, diminuição da parte fixa dos rendimentos e ampliação
da parte variável, deterioração das condições de saúde e
segurança no trabalho, entre outros.
Os
principais efeitos da terceirização no Brasil foram a redução
do quadro direto de trabalhadores, desmobilização dos
trabalhadores, desmobilização para greves, eliminação das
ações sindicais e eliminação das ações trabalhistas.
Das
perspectivas dos trabalhadores, as conseqüências da
terceirização são muito graves,
pois criam diferenciações acentuadas
entre os contratados das empresas, clientes e os das
prestadoras de serviços. Também a representação sindical
é afetada por esse processo, dado que na maioria das vezes os
trabalhadores terceirizados saem da abrangência das entidades
sindicais representativas da empresa tomadora de serviços.
O
emprego e as diversas formas de contratação de força de
trabalho tem sido em todo o mundo o maior fator de preocupação
do movimento sindical, dada à brutal redução do nível de
emprego e a acentuada desregulação das relações de
trabalho provocadas pela hegemonia das políticas neoliberais
e pela nova estrutura produtiva.
No
Brasil, os problemas relacionados ao emprego, tanto no que se
refere a quantidade, quanto a qualidade, são constitutivos da
formação do mercado de trabalho e nunca foram
prioridade nas agendas governamentais, o que acentua ainda
mais as oscilações negativas de seu nível.
A
terceirização vem aumentando constantemente não só
no setor privado, o setor público também vem sendo atingido
por esta política. Cada vez menos o Estado contrata e as funções
desempenhadas anteriormente por funcionários concursados vêm
sendo realizada muitas vezes por empregados contratados via
frente de trabalho, por exemplo.
Na
questão do desemprego a grande vitima continua sendo a nossa
juventude. Essa é a constatação da pesquisa “Juventude:
Diversidades e desafios no mercado de trabalho
metropolitanos” realizada pelo Departamento Intersindical de
Estatística e estudos sócios econômicos (Dieese).
Também
nesse campo do desemprego entre os mais jovens, a realidade é
ainda mais difícil para os mais pobres. No ano passado, a
taxa de desemprego entre os mais pobres atingiu a taxa de
58,5% na grande São
Paulo. Já para
os jovens que vêm de famílias com renda superior, a mesma
taxa é de 22,1%. O critério da pesquisa é ter como referência os 25%
mais pobres e os 25% mais ricos, devido à enorme desigualdade
social em que vivemos.
O
desemprego na faixa etária de 16 a 24 anos é quase o dobro
do da população em geral.
Segundo uma pesquisa da
seguradora Cardif, numa escala de 0 a 10, a nota
relativa à preocupação
com o desemprego entre os jovens é 8,5. Um dos fatores que
influenciam esse índice é a inexperiência, ainda que seja
um absurdo exigir experiência de alguém que está
praticamente ingressando no mercado de trabalho.
Há
um aspecto importante nessa pesquisa que é a questão da
jovem. A mulher, enfrenta ainda mais dificuldade para
conseguir emprego. Na região metropolitana de São Paulo, por
exemplo, os
jovens têm uma inserção de 81, 5%; para as jovens, esse
percentual atinge apenas 72,2%.
Apesar disso constatou-se um crescimento significativo
das mulheres jovens no mercado na grande São Paulo: esse índice
em 2004 era de 56% e hoje atinge 72,2%.
Uma
questão muito preocupante que aparece como destaque na
pesquisa é praticamente a opção que muitos jovens são
obrigados a fazer entre estudar ou trabalhar. Essa fase dos 16
aos 24 anos é a etapa na qual, normalmente, se conclui a
formação escolar e ao mesmo tempo se ingressa no mercado de
trabalho.
Aqui,
mais uma vez, notamos que os problemas sempre se agravam nas
camadas mais empobrecidas da população. De um modo geral, em
todas as regiões metropolitanas analisadas os jovens pobres
que conseguiram conciliar estudo e trabalho são muito menores
que os jovens advindos de famílias mais abastadas. A grande
diferença se expressa em números: na região metropolitana
de São Paulo, 13,4% dos jovens provenientes de famílias de
baixa renda, enquanto nos jovens ricos esse índice atinge
apenas 8,7%.
Ainda
mais grave é a elevada parcela da juventude pobre que não
conseguirá ao menos manter um desses elementos importantes
para inclusão presente e futura, ou seja, a escola e o
ingresso no mercado de trabalho.
Em São Paulo, segundo o estudo, 50,4% dos jovens entre
16 e 24 anos só trabalham ou só procuram trabalho. Os que
estudam e trabalham ao mesmo tempo são 24,6%
dos jovens entre os 25% mais ricos e apenas 6,7% entre
os 25% mais pobres.
Dentro
deste comparativo, vejamos a distribuição de atividades
entre os jovens em São Paulo:
|
25%
mais ricos
|
25%
mais pobres
|
Total
|
Só
estuda
|
16%
|
12,7%
|
13,3%
|
Só
tem afazeres domésticos
|
4,8%
|
19,3%
|
9,9%
|
Estuda
e trabalha
|
24,6%
|
6,7%
|
15,9%
|
Estuda
e procura trabalho
|
13,4%
|
8,7%
|
10,4%
|
Só
trabalha ou só procura trabalho
|
45,9%
|
47,9%
|
50,4%
|
A
pesquisa emprego e desemprego (PED) realizada pela fundação
SEADE e pelo DIEESE mostra que a taxa de desemprego que vinha
sendo estimada em 17,5% desde abril diminuiu para 17,1 na
população economicamente ativa (PEA). O rendimento médio
real dos ocupados aumentou 1,7%, passando a valer em média R$
1.057,00.
A
taxa de desemprego diminuiu no município de São Paulo de
16,2% para 15,4%; no ABC, de 17,1% para 16,8%; e registrou
pequeno aumento na região metropolitana de São Paulo, de
19,2% para 19,4%.
Apesar
desse tímido crescimento do emprego, o governo ainda tem um
grande problema a ser resolvido, e não é a crise provocada
pela corrupção e pela opção de fazer um governo de
continuidade e não de mudança. Refiro-me à questão das
reformas; a da previdência já aconteceu, porém, estão em
curso a sindical, a trabalhista, a política e a universitária.
Essas
reformas neoliberais propostas pelo governo Lula foram
comentadas no governo FHC, porém o mesmo talvez não tenha
conseguido apoio político suficiente para fazê-las, ou mesmo
ele percebeu que estas
eram contrárias aos interesses do povo e que isso lhe traria
imensa impopularidade e um enorme prejuízo político.
A
PEC (proposta de emenda constitucional) precisa ser aprovada
em dois turnos na Câmara e no Senado, mas está parada desde
março .
Parece
que o governo agora se propõe a realizar uma mini reforma
sindical, que seria uma alternativa para diminuir a resistência
à mudança e exigiria menos tempo e mobilização política
para ser aprovada.
Essa
“saída” para o governo mudar a legislação sindical,
evitando um trauma maior, talvez se deva principalmente à
crise política que esse governo enfrenta com os escândalos
consecutivos de corrupção. De qualquer forma, parcial ou
integral, acreditamos que essa reforma é uma grande ameaça
para a classe trabalhadora, e esta deve continuar mobilizada
acompanhando esse processo das reformas.
*
Paulo César Pedrini é historiador, mestrando em História
Social Política pela PUC-SP e Coordenador da Pastoral Operária
Metropolitana de São Paulo
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